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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Responsável Oficial do ticket do pedágio

Quando eu era pequena o grande acontecimento era quando meus pais resolviam viajar para a casa das minhas avós que moravam em Curitiba. Era sempre uma festa cheia de "Pai, tá chegando?" e brincadeiras para distrair eu e os meus irmãos durante a viagem.
E quando era mais pequena não existiam pedágios, mas me lembro que um dia do nada apareceram dois durante a nossa viagem. Em pouco tempo o preço teve vários reajustes que elevaram ainda mais o valor.
Quem menos ficava satisfeito com essa história era meu pai, que vivia resmungando. Em uma das próximas viagens ele não reclamou nenhuma vez sobre isso e na hora de pagar até sorriu. Isso não era normal, fiquei curiosa e soltei um "O pedágio ainda tá caro, né pai?", só para ver se conseguia uma explicação aceitável.
- É filha, o preço ainda continua um absurdo, fora da realidade para o nada que eles fazem nas estradas. Mas agora a gente tem uma solução, pelo menos para o nosso dinheiro disperdiçado. Eu vi no jornal que está tendo muita reclamação com o valor pago no pedágio e que o governo prometeu que quando for estabelecido o preço certo quem tiver as notinhas de pagamento vão recuperar o seu dinheiro, entçao vamos guardar todos os papéizinhos que a moça me der, que bom né?
Eu achei ótimo, eu com meus 7 ou 8 anos já estava indignada com o preço elevado do pedágio, quem sabe isso estava até fazendo as viagens pra Curitiba diminuírem e isso realmente era inaceitável porque eram passeios, presentes e dadoninhos a menos na minha vida, e olha que na casa da minha vó sempre tinha muito dadoninho.
Eu então virei a responsável oficial de cuidar dos comprovantes de pagamento do pedágio nas nossas viagens, meu pai pegava e dava para mim, eu dava uma olhada, tentava ler e daí entregava para a minha mãe em perfeito e bem cuidado estado para ela colocar no porta-luva, o lugar oficial para os tickets.
Com o passar do tempo eu fui conseguindo ler cada vez melhor e vi que aquilo já era pouco, então virei o papel para ver se tinha mais algo para ler.
Foi o maior susto da minha vida, fotos de crianças desaparecidas com o nome, a idade, data de desaparecimento e cidade que morava. Não falei nada para ninguém e continuei olhando cada detalhe de todas as informações. Depois disso, todos os tickets do pedágio que pegava eram lidos primeiro pela parte das crianças.
Eu começei a ficar muito preocupada e impressionada com as crianças perdidas, ainda mais quando achava alguma parecida comigo. Um dia meu pai me deu o ticket e eu vi que era uma foto repetida de alguma outra viagem nossa. Não me aguentei, tinha ficado realmente chateada, mostrei para a minha mãe "Mãe, ninguém encontrou essa criança ainda, por isso que eles colocaram outra vez a foto dela aqui?". Ela ficou o resto da viagem me explicando e consolando pra eu não me preocupar porque às vezes eles usaram um rolo de papel antigo para imprimir o comprovante.
Depois disso eles começaram a evitar de me dar o ticket porque eu ficava cada vez mais inconformada com as crianças desaparecidas. Um dia em casa eu pedi para minha mãe abrir o carro para eu brincar de dirigir. Lá estava eu dirigindo e levando meus irmãos para um mundo encantado quando um deles abriu o porta-luva, eram muitos comprovantes de pagamento do pedágio.
Minha mãe chegou quando eu já tinha revisto quase todos e me deu a maior bronca. Eu tinha entendido tudo aquilo e colocado na cabeça que as fotos iriam ajudar as crianças, mas mesmo assim o porta-luva se tornou algo terminantemente proibido de se mexer.
Por algum tempo eles ainda guardaram os tickets, mas depois perderam as esperanças, o dinheiro nunca foi reembolsado.

3 comentários:

  1. Que lembrança que vc resgatou, pode mostrar que vc sabe tirar proveito de tudo e das pequenas coisas se tranformam em lições para o seu crescimento. É simples como o colar de clisps...
    Sensacional...

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  2. Que chic esse blog... Já tem a crônica sobre pedágio hauhuauhuah

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  3. Aiiii, achei o máximo essa crônica, e seu blog tem mesmo a sua cara. : )

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